Devaneio

Depois de dois anos ele viu as flores plantadas por ela florescendo, lembrou da frustação nos olhos dela dois anos antes, por não ter crescido nem ao menos uma plantinha. “Elas seriam tão bonitas...” O lamento ecoava em seus ouvidos como se ela estivesse ali, sentada ao lado dele, olhando pela janela da cozinha. O dia passou, assim como a semana e o mês. As flores murcharam, tudo o que restou foi um cantinho cheio de grama. Para ele era apenas mais um dia, saiu, foi ao mercado, viu os filhos, passeou com os netos. À tardezinha, quando entrava em casa, parou, olhou fixamente para o cantinho das já extintas flores e uma voz doce disse em seu ouvido “até breve, querido”. Na manhã seguinte, seu corpo na cama, como se ainda dormisse, mostrava um ar sereno, como alguém que acabara de receber o beijo mais puro de amor. “Elas se tornaram muito belas, minha querida.”